Mãos

Bêbado, soluçando, cambaleia pela rua deserta ainda encarando a pedra que ocupa o lugar que foi da garrafa no embrulho de jornais. Ingrata! E pensei que iríamos nos casar! Tentou mais uma vez, e outra, não adiantava, a aliança não sairia. Tremendo de ódio levantou a pedra e com três golpes executou a solução que o delírio do álcool lhe trouxe. Olhou sua mão esmagada, retorcida, uma massa de carne e sangue – e aliança permanecia.

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“O mundo é dos destros”, “você precisa aprender a usar a mão certa”,”que garranchos, seu pai está certo em querer que estude medicina”. Hoje ele mostraria a eles. Carregava o embrulho pesado com as duas mãos, andava devagar por causa do esforço, quase na esquina parou, deitou o embrulho e retirou a pedra. Com muito esforço a levanta com sua boa mão e deixa cair sobre a outra. A dor é quase insuportável, mas enche o rapaz de força, repete o gesto mais duas vezes, destruindo a mão esquerda.

Agora teriam que se concentrar na mão que importa.

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