A Criança no Nevoeiro

Encheu o fornilho de fumo ruim, uma marca barata de sabor menta. Era o único que tinha e serviria para esta noite.  Ganhou a noite cinzenta da varanda. Em pé, como costumava ler poesia, acendeu o fumo com o isqueiro branco barato.  Pouxou a fumaça do fumo que resistiu em queimar.  Conseguiu uma brasa persistente … Continue lendo

She’s A Rainbow

Uma tatuagem feita com suas tintas de arco-íris. Não na epiderme, mera propaganda, mas funda, cicatriz ou fratura feita de graça e palavra que marca para sempre meus ossos com suas iniciais de letras iguais. E então ela se vai. Uma ponte efêmera ligando regiões invisíveis, que abandonamos na metade do caminho. O arco-íris é … Continue lendo

Entre morros e depressões

Achou graça da minha hesitação. Eu sempre tão seguro, sólido, sereno, muralha de ceticismo ascetico. Que terá pensado da minha entrega tão pessoal, mundana, humana? Ainda não sabia que meu gaguejar era a infiltração de você em mim. Anunciada no olhar. Que o beijo revelou. Que nos levou o caminho de volta. Caminho do hesitar … Continue lendo

O Surrealista Insone

Minicontos sem sentido que não cabem em seu lugar Aonde o Surrealista Insone vai buscar sua matéria prima? O Surrealista Insone abre as janelas do escritório e pensa, espreme idéias, agita pensamentos até que eles comecem a sair, tal ectoplasma dos antigos médiuns, em seguida o Surrealista Insone passa a noite trabalhando com delicado instrumento de precisão … Continue lendo

Primavera dos Dentes

[Sobre amor, liberdade e outras coisas –principalmente as vermelhas] 07:00 – Amarelo Acordou atrasado. Expulso da cama pelo fedor insuportável, prendeu a respiração enquanto arrumava-se apressado – não gostava de se olhar no espelho e hoje tinha uma desculpa perfeita. Jogou água no cabelo, um punhado de gel, duas passadas de mão e estava pronto, … Continue lendo

Mãos

Bêbado, soluçando, cambaleia pela rua deserta ainda encarando a pedra que ocupa o lugar que foi da garrafa no embrulho de jornais. Ingrata! E pensei que iríamos nos casar! Tentou mais uma vez, e outra, não adiantava, a aliança não sairia. Tremendo de ódio levantou a pedra e com três golpes executou a solução que … Continue lendo

Castigo [microconto]

Chegou ao trabalho cedo, mais quieto que o de costume, agarrou-se ao rodo e declarou que decidira esfregar o chão – é bom pra disfarçar o caminhar – pensou. Não foi a única coisa que pensou entre o vai-e-vem do pano-de-chão, afundado no cheiro da água sanitária que disfarçava o cheiro de gente velha que … Continue lendo